Aos dez anos, sua família mudou de São Caetano do Sul (SP) para Ribeirão Pires (SP), pois seu irmão caçula tinha bronquite alérgica e necessitava viver numa cidade com menos poluição. No Ensino Médio, fez curso técnico em Química e para concluí-lo começou a estagiar na farmácia Monte Alegre em São Caetano do Sul e ao fim do estágio foi contratada como funcionária, onde permaneceu por oito anos. Um colega de trabalho formado em Farmácia influenciou a sua escolha pelo curso de Farmácia na graduação. Participou da implantação da Farmácia-Escola na USCS e atuou como farmacêutica; e nesse período, sentiu a necessidade de fazer uma especialização. Após a conclusão desta, ingressou no mestrado na faculdade de Medicina do ABC. Após passar no concurso, lecionando na USCS, em 2012 iniciou o doutorado e já próximo a sua defesa, foi indicada a gestão do curso de Farmácia pelo gestor anterior. |
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Pergunta: [Luciano]
Bom, queria que você começasse falando nome completo, local e data de nascimento, por favor.
Resposta:
Precisa ser completo mesmo? [risos]
Pergunta:
O tanto que você preferir!
Resposta:
O meu completo eu quase não uso, né Lu? [risos]
Pergunta:
Pode ser o nome artístico [risos]
Resposta:
O nome artístico, é bem isso mesmo. Eu sou Cristina Vidal, nasci em São Caetano do Sul, no dia 08 de outubro de 1977.
Pergunta:
Cris, fale um pouquinho sobre o que lhe vem à memória da sua primeira infância, desse primeiro núcleo familiar aqui em São Caetano.
Resposta:
Bom, eu me recordo muito da época de escola, com relação à parque, né? Aqui em São Caetano especificamente, eu frequentava a Cidade das Crianças, que existe até hoje, então bem da infância eu lembro muito disso. Lembro muito do Paulo Machado de Carvalho, do teatro, porque a gente tinha muita apresentação de escola lá no teatro. Lembro assim de coisas até engraçadas, uma apresentação da minha irmã, que foi muito engraçada, que na época era para imitar a Gretchen. Imagina gente, depois vocês cortam essa parte [risos]. Mas essa época era muito engraçado.
Pergunta:
Você sabe que o objetivo desse projeto é isso, fazer com que as pessoas falem coisas que a gente possa depois envergonhá-las [risos]
Resposta:
Pois é, né? Ainda bem que não é de mim, é da minha irmã, viu gente? É sério, ela imitou a Gretchen no Conga La Conga, imagina, uma fofa, porque ela tinha sei lá, uns oito anos de idade, e ela ganhou o concurso [risos]. Uma época muito bacana, tinha uma produtora que era famosa aqui na cidade de São Caetano, se não me engano era dona Irani o nome dela, e ela era uma produtora que levava as crianças para fazer espetáculo na TV, por exemplo, então eu lembro muito desse episódio. Lembro assim das escolas, né? O que mais assim...Ah! Do Gisela! Eu era sócia do Gisela porque meu trabalhou por bastante tempo na GM. Então a gente tinha esse vínculo com São Caetano muito forte, porém até uma certa idade, porque com mais ou menos uns dez anos de idade, a minha família se mudou de São Caetano e foi morar em Ribeirão Pires, então eu morei na minha infância até mais ou menos uns dez anos na cidade, e depois a gente se mudou para Ribeirão Pires, onde meus pais moram até hoje, né? E aí assim, da infância eu lembro muito disso, lembro muito também dos bailes de Carnaval da GM, do Clube da GM. Nessa época, eu já vinha de Ribeirão Pires e assim, era bem divertido também. E eu lembro de uma coisa muito interessante que marcou minha infância, porque a gente passava pela Goiás para ir para o baile da GM, né? A Matinê à tarde, e eu sempre passava na frente do prédio da USCS, da Goiás, ali do Barcelona, e tinha aquela estátua famosa, se não me engano São Pedro, né? E minha mão sempre falava: ‘olha a estátua! Olha a estátua de São Pedro!' e isso marcou muito a minha infância, né? Nem imaginava que um dia eu ia trabalhar no que era o IMES na época, e hoje é a USCS.
Pergunta:
Como foi essa entrada na escola?
Resposta:
Aqui na Universidade?
Pergunta:
Não, na primeira escola que você estudou.
Resposta:
Nossa, sabe que assim, bem bem da infância eu não tenho tantas lembranças. Eu lembro de coisas que marcam, tipo eu nunca esqueço um dia que minha mãe acho que atrasou para me buscar na escola, era no Alfredo Burkart a escola, que é na Vila Gerty, acho que existe até hoje essa escola, e eu não me esqueço dessa cena, porque eu lembro que eu fiquei chorando muito na porta da escola. Então eu lembro de coisas muito marcantes. Eu lembro que na escola que eu estudava tinha um terreno meio acidentado e tinha umas tartarugas que ficavam num jardim, mas assim, eu não tenho memórias muito marcantes de pequenininha. E aí um pouco maior eu já fui morar em Ribeirão Pires, aí eu já lembro de mais coisas, da minha adolescência, que também está aí no ABC, né? Uma das cidades aí do ABC. Não é bem o ABC Ribeirão Pires, mas é um agregado, vamos dizer assim.
Pergunta:
Como foi essa mudança para você, com dez anos eu imagino que você tivesse amigos. Para você e para a família, como que você lembra dessa...? [5']
Resposta:
Olha, na verdade foi uma mudança por questões de saúde. Meu irmão tinha bronquite alérgica, e São Caetano por estar do lado de São Paulo era tida como uma cidade muito poluída, e o meu irmão tinha muito problema de bronquite e o meu pai tinha família em Ribeirão Pires, e Ribeirão é sempre uma cidade que está ali do ladinho da Serra do Mar, então era uma cidade menos poluída, então a opção deles de sair de São Caetano foi pela saúde do meu irmão. Na verdade, na época para mim foi uma coisa muito tranquila, não foi nada, eu acredito que para a minha irmã foi um pouco mais traumático, minha irmã já estava aí para seus treze para catorze anos, então para ela foi um pouco mais traumático. Eu sou a filha do meio, né? Eu tenho uma irmã mais velha, sou o recheio aí da bolacha e aí eu tenho o irmão mais novo que é o que tinha bronquite, então meus pais se mudaram para Ribeirão Pires. Tinha parentes lá também, mas se mudaram para lá para tentar melhorar essa condição de saúde do meu irmão. Então para mim, não foi nada muito traumático assim, mesmo sendo numa idade, mas eu acho que com dez anos eu era bem criançona ainda [risos], não tinha muitas amizades.
Pergunta:
E você ficou em Ribeirão até...?
Resposta:
Até eu me casar. Mas o meu vínculo com São Caetano sempre permaneceu porque meu pai se mudou para Ribeirão Pires, porém continuou trabalhando em São Caetano. Meu pai, logo quando ele veio morar aqui em São Caetano, ele veio para trabalhar na área de padaria, né? Ele sempre trabalhou em padarias como atendente mesmo do balcão, ele fazia batidas excelentes. Ele trabalhou numa padaria chamada Brasília, que hoje é a Nova Brasília, que fica ali na rua Amazonas, esquina com a rua Piauí. Uma padaria muito tradicional aqui de São Caetano. Ele trabalhou por muitos anos nessa padaria. E aí, depois da padaria, ele foi trabalhar na GM, mas na área de alimentação também. Meu pai trabalhava no restaurante da GM, se aposentou lá no restaurante, e ele era cozinheiro da GM. Então assim, nosso vínculo com São Caetano sempre permaneceu, então a gente visitava aqui o Clube da GM, nós vínhamos para São Caetano, então, principalmente por conta do meu pai, né? Tem esse vínculo aqui. Mas eu continuei lá em Ribeirão Pires, estudei lá, fiz um curso técnico em química lá em Ribeirão Pires, e foi aí nesse momento que eu, individualmente, sem o vínculo da família, voltei para São Caetano, porque, ao fazer um curso técnico de química, eu precisava fazer um estágio. E imagina, né? Eu, pequenininha, mulher, ter que fazer estágio numa indústria química. Ninguém queria me dar estágio. Com um curso do ensino médio ainda, e um dia eu batendo um papo com meu pai eu falei: ‘ah, eu preciso fazer esse estágio, não consigo'. E ele falou: ‘ah, eu vou ligar para um amigo meu, que me conhece há muitos anos, para ver se ele não te dá um estágio'. Esse amigo do meu pai era o senhor (Luiz Emiliani) um senhor muito famoso e conhecido aqui em São Caetano, já foi vereador acho por umas duas vezes inclusive, vive até hoje, se não me engano ele tem 76 anos, ele é o dono da farmácia Monte Alegre, que é a farmácia que ficava na frente da padaria. Hoje, ela se chama Maximed, que é do neto dele, do senhor (Luiz Emiliani), mas ainda mantém a farmácia de manipulação como farmácia Monte Alegre. Então assim, nesse momento, que foi em 1995, eu tinha dezessete anos na época. Eu lembro que eu vim, meu pai ligou para o senhor Luizinho, ele era conhecido como senhor Luizinho aqui em São Caetano. Meu pai ligou para o senhor Luizinho e falou: ‘olha, minha filha vai aí conversar com você'. Eu nunca tinha procurado emprego na minha vida, então eu vim tremendo na base, né? Vim conversar com o senhor Luizinho, morrendo de medo, e eu vim e falei: ‘olha, eu preciso fazer um estágio, faço um curso técnico', e aí ele: ‘está bom, pode começar amanhã', então foi tudo muito fácil, né? Enfim, eu nunca esqueço desse dia, foi bem marcante. E realmente, no dia seguinte comecei a fazer o estágio, trabalhei como estagiária com eles por uns seis meses mais ou menos e, antes de completar dezoito anos, eu ainda tinha dezessete, eu fui contratada por farmácia, como auxiliar de farmácia, aí foi meu primeiro emprego. Aí eu vim, individualmente, voltei para São Caetano, aí com uma questão profissional. Trabalhei por oito anos nessa farmácia, então eu entrei lá em 1997, é 1997 isso? Não, 1995 como estagiária, se não me engano 1996 mais ou menos como funcionária, e trabalhei por oito anos lá.
Pergunta:
Como era o seu dia a dia lá na farmácia? [10']
Resposta:
Então, eu trabalhava dentro do laboratório de manipulação, como técnica em química valeu como meu estágio para o curso técnico, porque farmácia tem tudo a ver com química, né? E aí lá eu fazia todo o processo. A gente preparava creme, shampoo, era uma farmácia que tinha assim uma venda, um movimento muito grande, então a gente tinha uma demanda muito grande, e eu ficava dentro do laboratório, nessa época eu não ficava no balcão atendendo paciente. E era muito interessante, porque era uma farmácia que tinha muitos funcionários, acho que eles tinham mais ou menos uns quinze funcionários dentro da farmácia. Então a farmácia, né? De manipulação, uma drogaria, mas com muitos funcionários. Então lá, justamente com o Pedro que é um farmacêutico que até hoje está lá também, foi onde eu aprendi principalmente a gostar da área de farmácia. Então eu terminei o curso técnico lá, acho que fiquei mais um ano no máximo, terminei o curso técnico, e com o Pedro, que era o farmacêutico que ficava mais próximo de mim, eu acabei pegando o gosto por farmácia. Quando eu era criança, eu falava que eu queria trabalhar, tanto que eu falava dessa maneira, análise de dados, enfim, alguma coisa relacionada à computação, porque, na nossa infância, computação era uma coisa de outro mundo, e nunca imaginei na minha vida que eu fosse trabalhar como farmacêutica. Mas com o Pedro era farmacêutico, eu aprendi muito com essa questão da farmácia, e aí fui fazer farmácia.
Pergunta:
E a opção pela química no ensino médio, como que aparece a química na sua vida?
Resposta:
A química, na verdade, na época foi quase que como uma única opção, porque assim, minha irmã fazia SENAI, técnico em SENAI, minha irmã entrou com 14 anos...14 para 15 anos no SENAI, e aí sempre ficou na família aquela coisa: ‘não, tem que fazer ensino, faz um curso técnico, que é para começar a trabalhar. E lá em Ribeirão Pires a gente não tinha muita opção de curso técnico, se eu não me engano era o único curso técnico, pode até ser que tenha tido outro na época, mas que eu me recorde um dos únicos, que você podia fazer o ensino médio e o técnico. Quando a gente vem do fundamental, que na nossa época era o primário, você não tem noção nenhuma do que é a química, né? Então eu fui conhecer a química já no curso técnico de química. Gostei demais também, me dediquei muito com a química, eu tinha um professor, falo muito que vai do professor, que isso é o que marca muito, tive um professor de química muito bom, então eu acho que isso fez com que eu gostasse da química. Era o professor Eteovaldo, nunca vou me esquecer dele, porque a gente chamada ele de professor ET, era o apelido dele, e ele era um químico maluco mesmo, ele tinha cabelo comprido, era assim bem estiloso, né?
Pergunta:
Você falou que é apelido, você sabe que isso era bullying, né?
Resposta:
Eu acho que era bullying, realmente. Professor ET. Tipo, algo muito estranho. [risos]
Pergunta:
Isso vocês já faziam naquela época com um pobre professor.
Resposta:
Exatamente! E aí a química foi meio que como única opção de fazer curso técnico para começar a trabalhar, e me apaixonei pela química, e depois indo fazer estágio numa farmácia de manipulação, conhecendo pessoas que gostavam muito do que faziam, me apaixonei pela farmácia. E aí fui fazer farmácia, quatro anos de graduação, continuei trabalhando nessa farmácia. Na época, no finalzinho do meu curso, eu fiz um estágio no Instituto Butantã. Foi um estágio muito bacana, e assim, eu sempre me dediquei muito naquilo que eu faço. No final no estágio, me convidaram para trabalhar lá no Butantã. Só que era muito longe, eu lembro que para ir para o estágio eu saía de Ribeirão tipo cinco e meia da manhã, porque eu tinha que entrar sete e meia lá no Butantã. Então era muito longe. Ao terminar a graduação em Farmácia, me fizeram essa proposta para trabalhar no Instituto Butantã, era uma proposta fantástica, porque eu ia trabalhar diretamente com uma pesquisadora que estava iniciando os estudos da vacina da gripe, que é hoje essa vacina super famosa que tem campanha anual, e tudo mais. Só que, ao mesmo tempo, a farmácia Monte Alegre me propôs a continuar trabalhando lá como farmacêutica. Então eu sairia da função de auxiliar de farmácia e ficaria como farmacêutica. E eu acabei, na época, optando por continuar lá. Abri mão da oportunidade do Butantã, não me arrependo, teria sido fantástico, mas continuar trabalhando lá também foi algo muito bom. Bom, acho que aí dessa forma eu acabei trabalhando mais um pouco mais na farmácia Monte Alegre, eu trabalhei lá por oito anos. [15']
Pergunta:
E como você falou um pouquinho que você sempre foi uma pessoa muito decidida ali no que estava fazendo, quais são as suas recordações da época de faculdade? E como hoje, estando do lado de cá da cadeira universitária, o que você se recorda e se reconhece, por ventura, com os alunos?
Resposta:
Olha, bastante. Acho que em várias situações. Primeiro, pelo envolvimento em sala de aula. Como eu trabalhava ao mesmo tempo que eu estudava, não tinha aquela vantagem de poder: ‘ah, vou chegar em casa e estudar', então eu tinha que prestar muita atenção no que o professor fala. Eu uso muito isso como exemplo para os alunos. Eu falo para eles, porque o nosso perfil de alunos aqui na USCS também é muito parecido. É aquele aluno que trabalha, e vem à noite estudar. Eu falo muito isso para eles, eu falo: ‘absorvam o máximo que vocês puderem em sala de aula, porque nem sempre a gente consegue em casa ter o professor ou alguém à disposição para tirar dúvidas, enfim'. Nem todo aluno acaba conseguindo estudar por conta própria, então eu uso muito isso como exemplo. Por outro lado, eu falo que tem a parte boa e a parte ruim de você trabalhar ao mesmo tempo que você estuda, porque eu me recordo que eu deixei de aproveitar algumas oportunidade, porque eu estudava de manhã e trabalhava à tarde, comecinho da noite. Então eu saía da faculdade direto para o trabalho, então muitas situações até de extensão dentro da universidade, eu acabava não participando. Mas eu acho que, como exemplo, eu uso muito essa questão mesmo de aproveitar a sala de aula, aproveitar o período que o aluno está ali perto do professor, tirar dúvidas, né? Participar de tudo aquilo que é possível, porque a vida acadêmica, os alunos acham que é quatro, cinco anos, acham que é muita coisa, mas passa muito rápido. A gente conversa muito com aluno que está terminando e ele fala: ‘caramba, como passou, né? Eu vou sentir saudades'. Sente realmente, né? Não saudade das provas, mas saudades do convívio, dessa possibilidade de errar, porque enquanto a gente está estudando, a gente pode errar. E, depois na vida profissional, se você errar você é penalizado, muitas vezes perdendo o emprego, então eu uso muito esses exemplos com os meus alunos.
Pergunta:
E como você sai lá da farmácia Monte Alegre, é isso?
Resposta:
Isso.
Pergunta:
E chega na USCS?
Resposta:
Eu falo que eu tive o privilégio de ter apenas, até hoje, dois empregos na minha vida, então fiquei oito anos lá na farmácia Monte Alegre, e depois já vim automaticamente aqui para a USCS. É muito engraçado que assim, é um privilégio mesmo, principalmente em tempos de crise. Eu não fiquei nenhum dia desempregada na minha vida, porque eu fui demitida da Monte Alegre, pedi demissão no dia 02 de junho, e fui registrada no dia 03 de junho na USCS. Então eu me sinto privilegiada. Na verdade, nesse momento eu já estava formada lá na farmácia Monte Alegre, eu trabalhava dentro do laboratório, mas também elaborando, a gente chama de estudos clínicos que a gente estava levando para os médicos, para a parte de propaganda mesmo, porém era uma empresa pequena, uma empresa familiar. E aí chegou aquele momento, eu já estava há dois anos formada lá dentro trabalhando, e chegou aquele questionamento: ‘poxa vida, eu estou numa empresa pequena, provavelmente vai chegar um momento que eu não vou ter para onde crescer aqui dentro, né?' E eu acho que meu chefe foi sentindo um pouco isso também. E isso coincidiu que, em 2003, a USCS estava iniciando um curso de farmácia que começou aqui em 2002, e em 2003 existia o projeto de implantação da farmácia-escola. Então, comecinho do ano de 2003, o professor Marco Antonio, na época que era o diretor aqui, era muito amigo do senhor (Luiz Emiliani) lá da farmácia Monte Alegre, e ele foi conhecer a farmácia Monte Alegre justamente para ver como que era o laboratório de manipulação, porque ele queria construir esse laboratório aqui na USCS. E ele foi até lá, viu como funcionava, a gente estava com um laboratório novinho na época, porque no ano 2000 houve uma reforma grande lá na farmácia, e tinha um laboratório muito bacana lá. Então ele foi lá conhecer, e ele falou: ‘olha, além de montar uma farmácia-escola para o curso de farmácia, eu preciso de um farmacêutico para trabalhar comigo, e ele pediu uma indicação para trabalhar com o senhor (Luiz Emiliani) na época. Foi começo de 2003. E aí, eu imagino que o senhor Luiz e o próprio Pedro, o outro farmacêutico, vendo que já existia alguma inquietação da minha parte, ele, olha só, o meu chefe, me indicou para cá, abrindo mão, lógico, mas de uma maneira muito generosa, né? Então ele me indicou para o professor Marco Antonio e foi quando eu vim aqui para a USCS automaticamente. Trabalhei inclusive na implantação da farmácia-escola. Então, quando eu fui contratada, a farmácia-escola ainda era lá na Tibagi, estava terminando de ser construída. Então ainda estava em obra, estava começando a chegar os materiais do laboratório, peguei bem do início mesmo. Foi nessa fase. [20']
Pergunta:
Como era a USCS que você encontrou naquele momento que você chegou aqui?
Resposta:
Olha, eu diria que era bem menor do que é hoje. Também nunca esqueço o dia que eu fui contratada, então eu fui contratada pelo professor Marco Antonio, porém eu tive que antes uma entrevista com o gestor do curso de farmácia na época, que era o professor Boni, que foi quem iniciou aqui no curso, estruturou todo o currículo do curso, tudo mais. E a nossa entrevista foi na unidade provisória, na época não era da escola da saúde os cursos da área de saúde, que funcionava numa escola ali na Estrada das Lágrimas.
Pergunta:
Do lado do parque do povo ali, né?
Resposta:
Exatamente, era ali. Então era uma escola do município que foi cedida para poder receber os alunos dos cursos da área da saúde por um tempo, porque esse prédio nosso, que nós estamos atualmente, que é o Campus Centro, não existia naquela época. E era muito pequenininho, eu conhecendo o IMES na época, mas fui até lá, obviamente, ele me entrevistou, lembro nitidamente da sala, todos os gestores, lembro da Rita, funcionária que hoje trabalha na reitoria, que era a secretária dos gestores, enfim, foram dias marcantes que a gente não esquece. E aí logo depois eu vim então lá para o Campus Barcelona, atual Campus Barcelona, ver toda a contratação anos atrás, mas assim, era menor, então eu lembro de algumas pessoas chave, uma das primeiras pessoas que eu conversei foi a funcionária Ione do RH, então são pessoas que marcam também. Mas não existia o Campus Centro, então eu acho que eu consegui viver aí nesses 14 anos um crescimento bastante importante da USCS.
Pergunta:
Você, como você diz, tem uma visão privilegiada da farmácia-escola, que no ano que vem completa 15 anos. Dos 50 anos da universidade, a farmácia escola completa 15 anos, o baile de debutante. Fala um pouco dessa história da farmácia-escola e das fases que você acompanhou até o momento atual.
Resposta:
É então, quando eu iniciei em junho de 2003, estava sendo estruturada ainda, foi um momento muito bacana, porque eu consegui acompanhar essa estruturação, eu acho que consegui colocar um pouquinho da minha personalidade também, em termos de organização, então isso para mim, primeiro que foi um aprendizado gigantesco, né? É montar uma farmácia, com a ajuda do professor Boni na época, que era o gestor do curso, com a participação até de alguns professores do curso, mas era eu quem estava lá no dia a dia. Então nós conseguimos montar essa farmácia, e a farmácia-escola sempre teve um apelo assistencial muito importante, porque nós sempre prestamos atendimento à população de São Caetano. Então existia uma necessidade desse serviço para o curso de farmácia, porque era um local de estágio importante para os alunos, porém também uma necessidade para o serviço público de saúde do município. Então, sem dúvida nenhuma, uma importância muito grande. A farmácia-escola sempre teve essas duas vertentes muito importantes, e eu acho que isso sempre fortaleceu muito. A farmácia-escola veio a ser inaugurada no dia 28 de novembro de 2003, e foi um dia muito marcante também, né? Luciano estava lá também nesse dia [risos] foi um dia bastante marcante, com a presença do saudoso prefeito Tortorello, que fez a inauguração na época, diversos secretários do município que participaram.
[25']
Foi um momento delicado, viver algumas aventuras aí, porque tivemos um questionamento na época da vigilância sanitária, porque acabou saindo na mídia que a gente ia fabricar medicamentos, e aí nós tivemos que ir até Brasília, junto com um representante da vigilância sanitária, para liberar esse nosso funcionamento e mostrar que não era uma indústria, que era realmente uma farmácia de manipulação. Enfim, inauguramos no dia 28 de novembro, e na sequência já começamos com o atendimento ao público, com uma turma na época, eu lembro, de seis estagiários, eu como farmacêutica, seis estagiários, e logo de cara uma demanda de pacientes muito grande. Então a gente via a necessidade do munícipe, da comunidade de São Caetano do Sul por um atendimento diferenciado. Então a gente veio aí desde 2003 atendendo esse público, sempre em parceria com a Secretaria de Saúde do município, sempre com apoio da reitoria da nossa universidade, com apoio da gestão do curso, e aí nesse meio tempo, voltando a falar um pouquinho do lado mais pessoal sobre mim, eu me via na necessidade de estudar mais, porque eu estava ali com os alunos e eu era apenas graduada em Farmácia. Então foi muito engraçado, porque eu tinha 25 anos na época e eu recebia os alunos lá com 18, e aí às vezes o paciente chegava no balcão e falava: ‘você é estagiária também, né?' Aí eu: ‘não, eu sou a farmacêutica' [risos]. E aí veio essa necessidade de estudar um pouquinho mais. Nessa época, eu comecei a fazer uma especialização em manipulação magistral alopática. Foi uma especialização que abriu muito a minha cabeça para o conhecimento, e, ao terminar essa especialização, me convidaram para dar aula na época nessa pos-graduação, que é no Instituto Racine, uma empresa muito tradicional da área farmacêutica. Foi uma época bem interessante, muito bacana, fiquei mais ou menos um ano dando aula pelo Instituto Racine, eles tinham alguns polos no Brasil, então eu tinha, geralmente era de final de semana, e eu tinha aula no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, na Bahia, e aí eu viajava de final de semana para dar essas aulas. Foi bem importante, eu acho, para a minha formação, foi aí eu falei: ‘eu estou dentro de uma instituição de ensino. Eu não posso me limitar a ser apenas a farmacêutica'. Seria interessante ir buscar algo mais. E aí, vendo essa experiência de dar aulas, eu acabei ingressando no Mestrado, comecei em 2008 a fazer algumas disciplinas do mestrado...
Pergunta:
Onde você fez o mestrado?
Resposta:
Fiz na Faculdade de Medicina do ABC, nosso vizinho aqui em Santo André, e foi o que me fez conseguir conciliar, porque na época eu fui até a USP, conversei com alguns professores de lá, mas nas públicas a gente sempre tem aquele pré-requisito de dedicação, né? E eu falava: ‘poxa vida, né? Não posso abrir mão do meu emprego para fazer o mestrado, então lá na USP acabou que não deu certo porque eles exigiam uma dedicação maior, e aqui na Medicina ABC eles tinha aulas à noite e de sábado e eu falei: ‘poxa vida, é aqui que vai ser' [risos]. Foi aí que eu fiz o mestrado, terminei o mestrado em 2010, e nesse meio tempo eu falei: ‘poxa vida, eu preciso começar a dar aula na USCS'. E, em 2010, eu terminei o mestrado, e em 2011, se não me engano, teve o concurso e, em 2012, eu fui chamada pelo concurso, como docente. Então aí eu já era, na época eu era apenas funcionária, e nesse momento eu passei a ser professora concursada. E tudo isso vivendo a experiência da farmácia-escola, a experiência de receber os alunos para o estágio, a gente sempre, de uma certa forma, tentando fazer a diferença no currículo desse aluno, e também linkando com o mercado de trabalho, então falavam: ‘olha, coloca no seu currículo, você acabou de sair do estágio' , e esse aluno, muitas vezes, conseguia um emprego na área de manipulação por ter feito um estágio lá na farmácia-escola. Isso sempre foi um diferencial importante, como eu sempre falo, a prática aliada na teoria, sendo um diferencial para a vida profissional do ex-aluno.
Pergunta:
E como foi essa experiência de dar aula, como foi sua primeira aula na USCS? [30']
Resposta:
Nossa, foi muito tensa. Apesar de eu já ter tido essa experiência lá na pós-graduação, que era um público completamente diferente, mas eu estava dentro da USCS, né? Então eu era farmacêutica, até pouco tempo atrás, e aí estava como professora. E olha, foi uma prova de fogo, porque eu entrei como docente de uma disciplina que na época chamava deontologia farmacêutica, que é a disciplina que ensina ética e regulamentação da profissão farmacêutica, a parte de normas. É uma disciplinas tidas como uma das mais chatas do curso. Porque imagina, o aluno de graduação não se interessa por norma, né? Vai sentir a importância das normas depois que ele se forma e vai atuar na vida profissional. Mas imagina, ele não tinha essa percepção. Detalhe: como professora de deontologia, dando as duas últimas aulas na sexta-feira. Um prêmio, né? [risos] Era uma prova de fogo para realmente ver se eu ia querer. Enfim, sem dúvida, primeira vez em sala de aula dá aquele frio na barriga, eu falo que toda turma nova a gente tem esse frio na barriga, né? Mas começo é sempre mais difícil. E ao longo do tempo a gente vai pegando o jeito, vai conhecendo mais os alunos, vai tendo um pouco mais de jogo de cintura. Mas, em termos de sala de aula aqui na USCS estou engatinhando ainda, né? Praticamente agora vou fazer cinco anos agora no final de 2017 em sala de aula, apesar de estar há 14 anos aí dentro da instituição.
Pergunta:
Você teve essa experiência como farmacêutica, como funcionária, né? Experiência como professora, que você está contando e, recentemente, você passou a ter experiência como gestora, né? Como foi essa transição, esse convite, e analisasse um pouco os desafios dessas três situações que você já viveu aqui dentro da universidade.
Resposta:
Em 2015, na verdade até complementando, eu terminei então o mestrado, eu comecei a dar aula, e veio a necessidade de não parar de estudar, né? A gente fala para os nossos alunos que não pode parar, e eu falo: ‘poxa vida, não pode ser só discurso. Vamos fazer na prática'. Então eu acabei ingressando no doutorado, em 2012, tinha terminado o mestrado em 2010, tinha acabado de passar no concurso aqui. Poxa vida, né? Então, dentro da universidade é importantíssimo esse doutorado. Então em 2012 eu entrei no doutorado. Isso mais uma vez abriu muito a minha mente. A gente percebe a diferença que a gente tem lá no mestrado, que é uma coisa curta, de dois anos, que você tem a preocupação enorme de defender a sua dissertação e se tornar mestre, e no doutorado é uma amadurecimento dessa fase da pesquisa. E aí isso abriu muito a minha mente, a fase da pesquisa no doutorado, até não respondendo diretamente a sua questão, mas eu queria falar um pouquinho dessa experiência, porque no doutorado eu consegui também trabalhar com dados aqui de São Caetano. Então meu doutorado, na verdade fui convidada por um dos membros da banca de dissertação do mestrado, a fazer o doutorado. Porém, numa área que eu nunca imaginei que fosse trabalhar. O professor (Alfézio), que é lá da faculdade de medicina da USP, me convidou para trabalhar com ele no doutorado, numa pesquisa sobre poluição atmosférica, e eu virei para ele e falei: ‘poxa vida, sou farmacêutica, eu nunca imaginei trabalhar com poluição atmosférica'. E ele: ‘não, mas a poluição atmosférica, quando a gente fala com ela voltada para os fatores de risco de adoecimento, você como uma profissional da saúde, tem plenas condições de atuar nessa área. E eu pensei: ‘poxa vida, se ele está falando isso, quem sou eu para dizer o contrário'. E aí assumi mais esse compromisso com ele, e eu falo que eu tenho felizes coincidências assim na minha vida, porque mais ou menos uns dois meses depois de começar o doutorado com ele, eu falei: ‘poxa vida, ir lá para a USP, ir lá para a doutor Arnaldo fazer disciplina, tudo mais, ter os encontros do doutorado, filha pequena em casa, será que vou dar conta?', e aí descubro que o professor Alfézio mora em São Caetano, tipo dois quarteirões da minha casa, falei: ‘mentira, né?'. Meu orientador, que tem um baita de um currículo, pós-doc em Harvard na área de poluição atmosférica, e eu descubro que ele é nosso vizinho aqui em São Caetano. E aí fui lá e falei: ‘poxa vida, será que os nossos encontros a gente pode fazer em São Caetano?'. Aí ele: ‘jura? Nossa, que bom! Podemos marcar lá na USCS?'. E eu: ‘pode, claro!'. Então as minhas orientações do doutorado, na maior parte das vezes, eu fiz aqui na USCS, e ia apenas para fazer as disciplinas lá na doutor Arnaldo.
[35']
Então eu falo que são os anjos abençoados da pesquisa que me abençoaram aí ao longo do caminho. Esse trabalho aqui em São Caetano do doutorado foi muito importante também para o meu amadurecimento nessa questão acadêmica, porque aí eu tive contato, esse trabalho do doutorado eu fiz em parceria com a nossa equipe de iniciação científica aqui da USCS. Então eu tenho uma professora que a gente sempre trabalhou em parceria, que é a professora (Briguite). Ela entrou com o mesmo projeto que era o mesmo do meu doutorado, só que como iniciação científica, e aí nós tínhamos alunos na graduação, não só de farmácia, mas enfermagem, fisioterapia, que faziam a coleta de dados aqui no nosso pronto socorro de São Caetano, que é o hospital Albert Sabin, nós coletamos mais de 60 mil dados de prontuários, sozinha eu jamais ia conseguir fazer isso. Então tem uma relação direta aí com o município, consegui concluir o doutorado ano passado, minha defesa foi em novembro do ano passado, depois de quatro anos e um pouquinho, e foi um dado importante que a gente conseguiu trazer para o município também, em termos de saúde, que nós conseguimos mostrar que, no período do estudo, a poluição atmosférica, que é registrada aqui no município, teve uma influência direta com o adoecimento de pessoas que passavam no pronto socorro do Albert Sabin. Então é um dado que tem tudo a ver com o ABC, tem tudo a ver com a USCS porque saiu daqui de dentro, tem tudo a ver com a minha história.
Pergunta:
É algo que seu pai estava inferindo há muitos anos atrás quando levou a família para_____?
Resposta:
Justamente! A questão da poluição, justamente!
Pergunta:
Você que é uma questão...mostrando empiricamente_____.
Resposta:
Exatamente! Então teve uma amarração aí na minha vida.
Pergunta:
Seu pai falou: ‘você preciso fazer mestrado, doutorado'....
Resposta:
‘Eu já sabia disso! Seu irmão tinha bronquite'.
Pergunta:
‘Há dez anos que eu sabia disso e você aí nessa pesquisa!'
Resposta:
Justamente, Lu! Muito interessante mesmo. E aí, nesse amadurecimento, no meio do caminho ainda, eu não tinha terminado o doutorado, eu recebi um convite para a gestão do curso. Esse convite veio em junho de 2015, com a saída do nosso antigo gestor, na época o professor Boni, por questões pessoas acabou precisando sair da gestão. Eu já trabalhava com ele desde sempre, lá na farmácia-escola, ele já conhecia muito bem meu trabalho, já estava como docente dentro do curso de farmácia, e aí, ao sair por questões pessoais, a própria reitoria solicitou para ele: ‘olha, você saiu, mas eu preciso de uma indicação para alguém no seu lugar'. E aí o professor Boni, generosamente, até de uma certa forma retribuindo essa parceria, fez a indicação do meu nome, que eu assumi em agosto de 2015 a gestão. Então em agosto de 2015 eu assumi a gestão do curso.
Pergunta:
Ou seja, outra constante também na sua vida é a questão da sua vida é que seus chefes te arrumam emprego.
Resposta:
Justamente! Eu vejo isso com muitos bons olhos, né? Mas, é uma coisa assim muito marcante. Justamente, Lu. E aí o professor Boni me indica, eu assumo a gestão em agosto. Assumo a gestão num momento importante porque o curso de farmácia nessa época estava passando por uma reformulação, a profissão farmacêutica na verdade está passando por uma mudança de paradigma muito importante, que é justamente a atuação clínica do farmacêutico. Então eu já assumi a gestão do curso com o desafio de uma certa forma modificar o currículo para a gente formar o nosso aluno voltado para a atuação clínica farmacêutica. E o que que é essa atuação clínica? É o farmacêutico que atua na área hospitalar, dentro de uma equipe multiprofissional, junto com médico, enfermeiro, fisioterapeuta, que era uma postura que não era comum do profissional farmacêutico, trabalhando no controle de contaminação, infecção hospitalar, discutindo com o médico a descrição farmacêutica, e aí a gente precisava reformular o curso bem nesse momento. E uma outra atuação importante do farmacêutico, uma área de atuação também muito nova que veio em 2014, que é a farmácia clínica, a implantação dos consultórios farmacêuticos dentro de todas as farmácias.
[40']
É um modelo europeu, e americano também, começou na Europa, mas nos Estados Unidos também fazem isso, que toda farmácia tem um consultório farmacêutico, onde o paciente, ao ir lá comprar um medicamento, ele tem toda a orientação, ele pode ter os serviços farmacêuticos, serviços de aferição de pressão arterial, serviços de aferição de glicemia, por exemplo, e é algo muito novo para o nosso país, porque o farmacêutico aqui dentro da farmácia, até pouco tempo atrás, ele era um mero entregador de caixinhas, ele não prestava essa orientação como deveria ser prestada. E hoje ele se vê num espaço que é o consultório farmacêutico, inclusive podendo prescrever alguns medicamentos, então o nosso curso tinha que ter essa reformulação. Então, de 2015 para cá, eu venho trabalhado juntamente com os demais professores do curso nessa reformulação do currículo, então logo de cara já peguei esse desafio da gestão; nesse meio tempo conseguimos reativar nosso laboratório de análises clínicas, que vinha por um período sem funcionamento, e também nesse meio tempo, em dois anos, nós conseguimos trazer a farmácia-escola, que ficava lá na Rua Tibagi, agora aqui para o Campus Centro. Era uma necessidade que já vinha há algum tempo existindo por conta de questões sanitárias até, nossas instalações lá, imaginem, de 2003, ela precisava de uma certa forma de uma reformulação, né? Uma readequação, e aí, num estudo de viabilidade juntamente com a reitoria, juntamente com os diretores aqui na escola da Saúde, nós vimos que era muito mais viável, ao invés de reformar a unidade da Rua Tibagi, trazer a farmácia-escola para o Campus Centro, para integrá-la com as demais clínicas, os demais cursos da área da saúde, para estar de uma certa forma mais acessíveis para os pacientes, porque aqui no centro nos estamos de uma maneira muito mais acessível, do lado da rodoviária, com acesso de ônibus, também facilitando o acesso dos alunos que vem fazer estágio e já estão dentro do Campus para a aula, e adequando a parte sanitária, que era algo que a gente realmente precisava fazer. Então agora a gente está prestes a inaugurar, a farmácia-escola já está pronta, estamos prestes a inaugurar a farmácia-escola, e eu acho que isso é um ganho muito importante para o nosso curso. Então, eu fico feliz de nesses dois anos já ter trabalhado um pouquinho aí para fortalecer o curso, de uma certa forma trazendo essa qualidade de ensino, que eu acho que isso faz toda a diferença, fortalece o curso, fortalece a própria escola da saúde, porque temos agora um estabelecimento que é do curso de farmácia, que pode dar suporte para clínica de fisioterapia, a gente quer trabalhar em parceria com a nutrição, por exemplo. Então, aos poucos, a gente vai conseguir uma integração e mostrar para o aluno a importância dessa atuação multiprofissional, é o que ele vai ver no mercado de trabalho.
Pergunta:
Cris, eu tenho conversado com vários professores, e eu acho que os alunos tem aquela visão do professor, que eu acho que é aquela visão ali da sala de aula, né? Tem alguma particularidade sua que os alunos nunca imaginariam que você pudesse trazer agora? Tem professor que eu perguntei isso e ele disse: ‘ah, eu gosto de jardinagem'. O que você pode falar de curiosidade que os alunos possam falar: ‘nossa, como que a Cris tem esse hobby, gosta disso'.
Resposta:
Entendi. Olha, eu costumo dizer que minha vida se mistura muito com o trabalho. Então a gente tem uma dedicação muito grande aqui dentro da instituição, então não sobre muito tempo para essas coisas [risos]. Eu falo que o meu maior hobby é tentar cuidar um pouco da saúde, não ser só discurso. Uma coisa que muita gente talvez não saiba que eu faço e gosto de fazer é malhar, musculação. Eu adoro. Não consigo ir muitas vezes, por conta da rotina. Eu estava brincando esses dia com uma aluna que eu ia fazer um blog chamado FarmaFitness [risos] de uma certa forma tentando mostrar para o público farmacêutico que não tem jeito, né? Eu falo que a nossa vida se mistura com o trabalho. Meu círculo de amizades é de farmacêuticos, e aí eu brincando com ela: ‘olha, vamos fazer um blog, a gente divulga para todos os ex-alunos, para cuidar da saúde'. E a gente brinca muito, né Lu? Porque assim, por mais que, a gente que é farmacêutico, conhece muito de medicamento, a gente sabe o quanto que eles são prejudiciais para a saúde. Então, nós como farmacêuticos, gostaríamos muito que as pessoas não precisassem usar medicamento. E eu acho que essa importância com a integração com os outros cursos. E eu tento trazer isso para a minha vida, alimentação saudável, prática de atividade física, os momentos de lazer que a gente tem que ter, que no meu caso é sempre em família, até para compensar os momentos que a gente está ausente dentro de casa. Então de uma certa forma eu acho que essa parte do bem-estar, do cuidado com a saúde é o meu outro lado que as pessoas ainda não conhecem. Mas que vão conhecer com o blog [risos].
Pergunta:
_________, hein?
Resposta:
Sim! [45']
Pergunta:
Você falou que essa imagem que você tinha do IMES, naquele momento ali de São Caetano, vindo aqui por conta do seu pai, da estátua de São Pedro quando você passava ali pelo Barcelona, né? Queria que você falasse sobre a USCS hoje, quer dizer, se você tivesse que definir a USCS, como que você definiria essa instituição, agora que você conhece ela tão bem por dentro?
Resposta:
Olha, eu acho que, apesar de ser uma instituição regional, somos uma autarquia do município, então a USCS é muito regionalizada, e eu acho que é até intuitivamente, né? Porque estamos inseridos no ABC, numa região muito central, São Caetano faz divisa com São Bernardo, com Santo André, então sem dúvida nenhuma essa inserção regional é super importante. Mas, eu percebo que nós precisamos expandir os muros do ABC. E eu já visualizo isso dentro do curso de farmácia. A gente tem, por exemplo, participação de alunos em congressos, e eu vejo hoje o nome da USCS sendo muito mais bem visto mercado afora, dentro da minha área farmacêutica, imagino que nas outras profissões isso também já aconteça, mas principalmente por conta dessa atuação. O ABC, sem dúvida nenhuma, ele tem uma projeção nacional muito forte, até por conta das indústrias automobilísticas, então é sempre falado, mas eu vejo a USCS nessa necessidade de expandir um pouco na região do ABC, e eu acho que ela já está nesse caminho, a gente percebe pelo trabalho de marketing que é feito, pela absorção do mercado de trabalho dos nossos ex-alunos. A gente já teve épocas que os ex-alunos iam para o mercado de trabalho, mas aqui na região. Hoje, não. Hoje eu tenho ex-aluno na indústria farmacêutica em Embu das Artes, geralmente indústria não tem muito aqui na região do ABC. Então nós temos essa expansão muito maior, e eu acho que isso tem sido muito positivo para a USCS. Não sei se é intencional, ou se é algo natural, porque de uma certa forma hoje com a mídia, com os diversos meios de comunicação isso acaba sendo natural, né? Essa expansão. Mas eu acho que esse crescimento, que há 14 anos por aqui eu acabo acompanhando, de uma certa forma vem caminhando para isso, e eu acho que isso vai trazer uma benefício muito importante para os nossos alunos, principalmente com relação ao mercado de trabalho. Aquela questão que era mais regional: ‘Ah, a USCS de São Caetano', na verdade o IMES, né? Porque a gente fala USCS e ainda tem muita gente que conhece como IMES. Mas a gente procura falar USCS: ‘olha, a Universidade de São Caetano do Sul', ontem mesmo eu tive uma experiência muito positiva sobre isso, porque nós estivemos visitando a Natura ontem com os alunos do curso de farmácia, e lá em Cajamar, falei: ‘olha, somos da Universidade de São Caetano'. Aí ela: ‘ah, nós temos uma farmacêutica que trabalha aqui no controle de qualidade que é lá da região'. Não era ex-aluna nossa, mas assim, falou bem da USCS, conhece a USCS, então expandir eu acho que seria uma visão de futuro aí que já está acontecendo, né? Já é o nosso futuro.
Pergunta:
Cris, eu queria que você trouxesse aí, o que vem à sua memória, de alguma situação, alguma curiosidade, alguma situação engraçada. Até agora você só entregou a sua irmã...
Resposta:
É verdade! [risos]
Pergunta:
Falar um pouquinho da sua história com a USCS. Você falou do seu primeiro dia de aula, que realmente é um dia importante. O que mais você gostaria de destacar que seria bacana, você relembrar dessa sua trajetória aqui na universidade.
Resposta:
Olha, tem muitos momentos, viu? [risos]
Pergunta:
Geralmente eles vêm à tona quando a gente desliga a câmera. Quando a gente desliga a câmera, a pessoa lembra! [50']
Resposta:
É, aí lembra! [risos] Olha, eu acho que é sempre marcante para mim a colação de grau, participar da colação como gestora, e como paraninfa também, por antes de ser gestora, eu já ia como paraninfa, me orgulho disso também. São momentos marcantes, porque aí lida com a emoção, o aluno, o pai, o momento de gratidão dos alunos, né? Isso é sempre marcante, não é nada muito engraçado, mas assim, emocionante. Bom, e a vivência na farmácia-escola, sem dúvida nenhuma eu sempre tive uma dedicação muito grande de horários. Então eu costumo dizer que é a segunda casa, né? Eu falo que a USCS é a minha segunda casa. Mas tiveram alguns momentos mais marcantes com relação aos alunos, por exemplo, lá na farmácia-escola a gente teve momentos até de desafios assim, eu diria até críticos, porque logo no início da farmácia, a gente estava num bairro que é bastante residencial, então foi bem no comecinho mesmo, então a gente se deparou, por ser uma farmácia, você fala: ‘poxa vida, ali tem um profissional da saúde', logo no comecinho, nunca me esqueço, uma vizinha veio desesperada, com uma bebezinha no colo, engasgada com leite, e ela simplesmente jogou no meu colo a neném, e ela falou: ‘olha, a minha filha está engasgada, me ajuda!'. Na época, eu tinha 25 anos de idade, recém-formada, falei: ‘caramba, o que eu preciso, ter tranquilidade nesse momento'. Não sabia o que fazer na hora, juro por Deus, não sabia. Mas aí eu tive a tranquilidade de ligar no 199, coloquei o telefone no ouvido de uma aluna que estava do meu lado, e com a neném no colo, e aí o pessoal do 199 foi falando o procedimento, e eu fazendo, e a criança tinha quinze dias a bebezinha. Ela desengasgou na hora, deu um jato de leite, e começou a chorar. Na hora que ela começou a chorar, a policial no telefone falou: ‘olha, ela já desengasgou, pode ficar tranquila'. E mandou a viatura, isso foi muito marcante. Não foi nada, né? Pelo contrário, foi muito sério assim, mas são os momentos que marcam. Ah, mas diversos momentos aí importantes, eu digo, da minha trajetória.
Pergunta:
O que a USCS representa na sua vida?
Resposta:
Olha, é o ganha pão sem dúvida nenhuma, mas eu diria que é um pouco mais, que é um vínculo que eu tenho também com a minha profissão...ai, vou emocionar agora [risos emocionados]
Pergunta:
Quando_______ falou que eu ia te fazer chorar, eu assumi o risco!
Resposta:
Olha, que maldoso gente! [risos] Ah, sem dúvida nenhuma é um vínculo com a minha vida, né? A minha história de vida está aqui dentro, principalmente com relação à profissão. Eu tenho um orgulho muito grande de formar farmacêuticos, porque eu acho que a gente tem um comprometimento com a saúde das pessoas, enfim, faz parte da minha vida, sem dúvida nenhuma [choro].
Pergunta: [Luciana]
Você quer um lencinho?
Resposta:
Ah, eu quero! [risos] Poxa Lu, você não me falou que ia me fazer chorar!
Pergunta:
Mas você vê como esse projeto, eu sou meio suspeito em falar, mas a _____ até esteve nesse congresso do México contando a história dela, apresentando esse projeto, porque quando a gente oraliza a nossa história, logo quando a gente começou a fazer, a ideia era mostrar que a universidade tem lastro, a visão das outras pessoas sobre a universidade, que é um componente importante da história oral, né? Mas ela tem muito esse componente do pertencimento, todas essas pessoas que vem aqui, óbvio, nós que estamos aqui há 14, 15 anos, tem gente que tem 30...
Resposta:
Meu Deus, aí é a vida mesmo!
Pergunta:
Aí quando ela para, às vezes não está nem pensando nisso, mas quando você para para falar sobre isso, refletir sobre isso, você vê o quão a instituição foi presente na sua vida, e vice-versa, né? O quanto você também foi importante daquela história, e essa questão é muito importante na história oral, né?
Resposta:
Sim, sem dúvida.
Pergunta:
Eu queria ver com você se você tem algo mais que você gostaria de dizer...
Resposta:
Com essa cara de choro, né? [risos]
Pergunta:
Você viu por que a gente não faz a parte lá dos gestores primeiro?
Resposta:
Verdade, né? Você é a experiência em pessoa. [risos]
Pergunta:
O que mais você gostaria de deixar que você acha que seja importante deixar registrado num projeto como esse que busca registrar a memória da nossa universidade, e das pessoas que aqui estão, né? [55']
Resposta:
Olha, eu acho que no geral é falar dessa expansão mesmo. Eu acho que, pensando no futuro, dentro do possível, se a gente puder expandir então a nossa instituição, não sei até em termos de crescimento, eu acho que nem seria isso, eu acho que seria em termos de visibilidade mesmo. Eu vejo que esse crescimento vem sendo construído, e que principalmente pelos nossos alunos, isso faz toda a diferença. Essa expansão, essa visibilidade maior, não apenas tão regional, mas assim, eu acho que isso tem sido feito de uma maneira até muito bacana, porque é sempre pé no chão, né? Esse crescimento vem sendo feito pouco a pouco, lentamente, de uma maneira bastante estruturada, e eu acho que é dessa forma que a gente cresce, com alicerce, e eu acho que a USCS tem um alicerce muito bacana, e assim, esses 50 anos aí ainda está se desenvolvendo ainda, vai ainda gerar muitos frutos de agora em diante, com certeza.
Pergunta:
E seu irmão, ficou bom?
Resposta:
Olha, sabe que ele melhorou bastante da bronquite em Ribeirão Pires? É verdade, ele melhorou muito, inclusive ele continuou morando lá, tem o filhinho dele, o único problema que eu falo é que é o elo perdido, Ribeirão Pires. É uma neblina, faz bem para o pulmão [risos].
Pergunta:
Antes de encerrar então, você falou do casamento do seu...filho ou filha?
Resposta:
Filha.
Pergunta:
Da sua filha...eu queria que você traçasse um pouco um paralelo, você viu a área de saúde da USCS praticamente surgir e pensando assim no amadurecimento da área da saúde e do curso de farmácia especificamente, do próprio amadurecimento da Cristina, né? Da pessoa que você era e o quanto você evoluiu nesse período. Dá para traçar um paralelo entre as duas coisas, falar um pouquinho sobre essas duas coisas e de pontos importantes desses dois momentos?
Resposta:
Eu acho que caminha muito junto realmente, eu acho que esse meu amadurecimento se deu muito com o envolvimento acadêmico, que é algo que muitas vezes a pessoa não imagina que deve acontecer, e muita vezes a gente fala para o aluno, quem tem perfil, né? O aluno que tem perfil acadêmico a gente fala: ‘olha, o caminho é esse,. O mestrado, o doutorado', e aí a pessoa vê de uma maneira assim, meio que punitiva: ‘ah, para eu ser um bom profissional, eu tenho que estudar muito, vou ter que ralar muito, sofrer muito', e eu vejo que, para mim, não sei se é justo pela sorte que eu falei que eu dei, pelos anjos da pesquisa que sempre me abençoaram, mas esse caminho para mim não foi punitivo, ele foi edificante realmente. Então acabou que eu vejo a parte acadêmica como algo que constrói, que vai edificar, e a USCS é isso, eu acho que a gente edifica a vida dos nossos alunos e, de uma certa forma hoje, temos o mestrado, temos o doutorado, então a ideia é que o nosso aluno possa ter esse crescimento, esse amadurecimento dentro da vida acadêmica desde que ele tenha perfil, não é todo mundo que vai ter perfil para isso. E eu acho que, nesse sentido, a história da minha vida se mistura muito com a história da universidade, né? Porque, de uma certa forma, isso para mim foi um fator de crescimento, de amadurecimento, e que trouxe bons frutos, então para mim não foi tortura, nada punitivo, pelo contrário, né? Foi bastante proveitoso, a trajetória foi bastante proveitosa. Aí quando eu falo isso, todo mundo me pergunta: ‘ah, então você vai querer fazer o pós-doc, né?'. Eu costumo responder que não, eu perco o marido e a filha, né? Porque aí já é demais, tantos anos de dedicação, né? Aí eu falo que não é o momento, que eu preciso me dedicar à minha família também [risos]
Pergunta:
Muito obrigado!
Resposta:
Imagina!
Lista de siglas presentes no depoimento:
GM: General Motors
SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
USCS: Universidade Municipal de São Caetano do Sul
RH: Recursos Humanos
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior
ET: Extraterrestre
USP: Universidade de São Paulo